Roberto Alban Galeria

Artistas Artista

Lilian Maus

Olho d’Água

Fernanda Pitta

Geraldo Marcolini é um pintor carioca com uma longa trajetória de reflexão sobre a imagem, na interseção entre a pintura e a fotografia. Sua abordagem desde há muito se distancia de narrativas e simbolismos, focando na materialidade da pintura e na aparição das coisas no mundo. Ainda que quase sempre tenha se dedicado ao gênero que chamamos de paisagem, tampouco lhe preocupa explorar a história ou ideologia visual do gênero em si, tomando-o como um campo que lhe permite uma liberdade de experimentação para além de aspectos discursivos da representação.

Felipe Scovino já observou como Marcolini desafia a ideia de que a pintura está morta ou limitada. O crítico observou que as obras do artista surgem de uma investigação sobre o estado da pintura, onde ele utiliza imagens aleatórias e anônimas como ponto de partida. Essas imagens, muitas vezes capturadas da internet ou de outras fontes, sem nenhuma intencionalidade ou discurso prévio, são transformadas em pinturas que exploram a luz e a textura como assuntos em si. A aparente “pobreza” ou “banalidade” das imagens transforma-se para ele em potencialidade estética para explorar erros e imperfeições da percepção, num autoexame do ato de ver e perceber o estar no mundo. Suas paisagens são assim sempre melancólicas e silenciosas, abraçando a aleatoriedade e a impermanência. Esse vazio e falta de ação, que contradiz boa parte da história da pintura ocidental, permite a Marcolini centrar-se nos fenômenos físicos que lhe capturam a atenção.

No entanto, não é a reprodução naturalista e fiel desses fenômenos o objetivo de sua pintura. Sua criatividade e experimentação técnica se abrem à imprecisão, à subversão, revelando, como já salientou Marcelo Campos, “uma estética onde o visível se torna um espetáculo interrompido e ambíguo”. Esse visível é observado naquilo que tem de transparente e maleável ao olhar, mas também no que demonstra de opacidade, no caráter infenso a deixar-se definir discursivamente.

Recentemente, Marcolini tem se voltado para a pintura de paisagens aquáticas, quase sempre despovoadas, mantendo o foco na água como um elemento que mistura e reflete, que cria ambiguidade entre o dentro e o fora, embaralhando pontos de vista – frequentemente não sabemos se estamos diante de uma imagem de um aspecto de uma planta, uma pedra, uma folha caída sobre a água, ou de seu reflexo. Naquelas em que a figura humana aparece, na qualidade de banhistas – outro tema histórico da pintura – sua atenção à fenomenologia das imagens, à permeabilidade das formas e cores, é capaz de colocar em dúvida o condicionamento que nos faz separar seres humanos dos outros seres do mundo. A aparência não contradiz a realidade, ao contrário. Na superfície desses olhos d’água aflora a profundeza do estar no mundo.

 

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